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Inspiração para Bernardinho e de família de craques, Helenize de Freitas ganha biografia em noite de nostalgia

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Em 2014, sobrinhas de Heleno de Freitas contaram à Bacará Ao Vivo histórias sobre o tio famoso: 'Inspiração' (9:57)

As irmãs Helenize e Helilene Henriques de Freitas, assim como Heleno de Freitas, também foram grandes esportistas (9:57)

Helenize de Freitas, 78, tem o talento do esporte no sangue e no sobrenome. Sobrinha do astro do Botafogo dos anos 40 Heleno de Freitas, ela é também prima do ex-jogador e ex-treinador de vôlei Bebeto de Freitas. É ainda irmã de Herilene de Freitas, a Nega, um fenômeno da natação aos 80 anos nas provas de águas abertas.

Belê, como é conhecida pelos mais íntimos, nasceu e vive até hoje em São João Nepomuceno, região da Zona da Mata mineira, distante quase 100 km de Juiz de Fora. Por lá, todos a conhecem como parente de Heleno, mas poucos sabem o quanto ela foi importante na transformação do vôlei nacional.

É simplesmente uma das inspirações para Bernardinho, referência da modalidade. “Eu, quando era menino, bem jovem no Fluminense, vi jogar, cheguei a treinar com elas no time adulto do Fluminense. Era uma craque completa, levantava, atacava, não era alta, mas saltava muito. Tinha uma personagem de líder incrível. Foi uma das jogadoras que, quando garoto, mais admirei. Começando a carreira, ela no auge, dava show no Fluminense. Era absolutamente fora de série. Era impressionante. Família de grandes campeões”, descreveu, à Bacará Ao Vivo.

Cada repórter tem seu jeito particular de descobrir histórias. A minha com Helenize foi por acaso, com uma pitada de sorte e de burrice, quando viajei com a equipe para São João Nepomuceno de carro, saindo de São Paulo, para concluir uma reportagem iniciada no Parque São Jorge com o ex-jogador Adil, antigo craque do Corinthians.

Na pausa para o almoço, quase com o restaurante fechando no clube do Botafogo local, pergunto a proprietário ali no balcão se existia na cidade algum familiar de Heleno de Freitas. Para minha surpresa, o senhor me disse: “Olha aquela senhora se servindo ali, é a única parente viva do Heleno que mora aqui na cidade, é a Belê, sobrinha dele”.

Fiquei arrepiado na hora. Não só por ter descoberto, sem querer, uma segunda pauta para minha viagem, mas por ter dado de cara com uma senhora que mais parecia a irmã gêmea da minha mãe. Dali, marcamos um encontro às 18h, onde Belê iria treinar vôlei entre as jovens promessas da cidade, no auge de seus 70 anos…

No clube Mangueira, onde ela e a irmã Herilene foram introduzidas na natação, Helenize escolheu o caminho das quadras, saltas e cortadas. Ajudou a revolucionar o vôlei entre os anos de 1960 e 70. Descobrimos uma Belê que foi tão ou mais fantástica que o tio famoso.

A história dessas “mulheres com H”, o mesmo de Heleno de Freitas, você assiste acima. E acreditem: hoje, após quase dez anos, as duas irmãs continuam em plena atividade. Herilene acaba de voltar do Japão do Mundial de águas abertas, enquanto Helenize, a Belê, personagem central dessa nossa história lança sua biografia nesta sexta-feira (15), às 19h, no Clube Mackenzie, em Belo Horizonte.

Nei Medina, 59, não é jornalista, mas trabalha como se fosse. É um dos maiores historiadores do esporte de São João Nepomuceno. De tanto pesquisar os talentos da região, escreveu dois livros contando as histórias de dois ídolos locais, Adil e Marco Aurélio Ayupe.

Agora lança a biografia da supercampeã do vôlei. “O estranho toque. Helenize de Freitas: o divisor de águas do vôlei feminino no Brasil” conta a história desde o nascimento dessa grande estrela até os dias de hoje.

Uma história que o autor, conterrâneo de Helenize, sonhava publicar, pra acabar com o incômodo de ver o próprio povo da cidade não conhecer a importância de Belê na construção do vôlei feminino brasileiro.

“Levantando histórias de atletas amadores de São João Nepomucemo, quando eu cheguei na Helenize, eu fui pesquisar algo dela na internet e não encontrei muita coisa, e uma frase me chamou a atenção: que o vôlei feminino brasileiro deslanchou, teve sua ascensão a partir dos anos 1980. Eu pensei, bom, mas e a história da Helenize, que é de 1965 até 1975? Ninguém vai ficar sabendo? Então, ali eu parti desse princípio. Belê teve uma carreira meteórica. Saiu do Mangueira, clube de São João Nepomuceno, para brilhar em Belo Horizonte. Logo foi para a seleção do estado, logo foi convocada para a seleção, onde tornou-se capitã e logo escreveu uma bela história com títulos sulamericanos, pan-americanos e outras importantes conquistas internacionais com a camisa do Brasil. No livro ela faz questão de contar as histórias dos bastidores das viagens, concentrações de uma época em que as jogadoras não ganhavam nada para defenderem a seleção. Com a obra literária, acredito que até o cidadão de São João quando cruzar com ela na rua, a partir de agora saberá com quem estará falando”, afirma Medina.

Com o livro, agora Medina e Helenize poderão espalhar, a partir desta noite, as histórias que ficaram guardadas por décadas e décadas na memória da superdesbravadora do vôlei para que todos tenham acesso. Uma homenagem em vida para essa “mulher com H”, de Heleno, sim, mas também de humanamente esportista e campeã.

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